VIVA - Artista busca em objetos da infância a inspiração para criar

Pense naquela boneca desgrenhada que você tanto gostava, naquelas bolinhas de gude americanas, no peão batatinha, na medalhinha de Santo Antonio, na folha de outono que ganhou do primeiro namorado, na bengala de madeira de seu avô ou até mesmo naquele velho chinelinho pompom. Pegue tudo isso e faça virar arte. Não consegue? Mas é possível. É o caso da exposição “Preciosidades da Minha Vida”, da artista plástica rio-pretense Cristiana de Freitas, que interagiu com pintura e objetos de infância, numa técnica conhecida como assemblage.

A exposição, no Sesi de Rio Preto, consiste em gavetas dispostas na parede como pequenas vitrines, em uma série de “cenários imaginários”, relativos a suas lembranças de passagens vividas na infância em Rio Preto. “Eu quis que minha cidade fosse a primeira a ver minha exposição individual”, diz. “Quero repartir com o público meus guardados de infância, que fará com que as pessoas também se lembrem das suas”, acrescenta.

As pinturas com alguns objetos adicionados são vitrines de sapato da adolescência; roupas de bonecas; uma rosa seca, lembrança da fase passada na casa de um tio, que a acordava diariamente com uma rosa; penhoar, presente de sua avó; cacos de um destilador, feito por um tio dono de laboratório na cidade, como colaboração para uma feira de ciências da qual participou; fitas do Senhor do Bonfim; medalhas que foram presentes de seus avós e do padre Chico, então pároco da Igreja Nossa Senhora do Sagrado Coração, na Redentora.

Essa é sua primeira exposição individual em Rio Preto. Cristiana já realizou as exposições “Incisões”, com fotografias, no Goethe Instituto, em Curitiba, em 2004; “Luzes, Cores e Sabores - A Magia da Cidade da Bahia”, composta de fotografias, no Hotel Tropical da Bahia, na capital, Salvador. Participou de exposições coletivas em 1996, da “Exposição Geral do Daert”, na UFU (Universidade Federal de Uberlândia); em 1997, da Exposição “Presépios”, promovida pelo Sesc de Rio Preto; em 1999, “A Última Exposição do Milênio”, na Casa de Cultura de Rio Preto.

De outros eventos, Cristiana participou da curadoria do Projeto de Restauração da Via Sacra de José Antônio da Silva, em exposição permanente na Igreja Nossa Senhora do Sagrado Coração, em Rio Preto; e da curadoria da exposição da Via Sacra de José Antônio da Silva no Museu de Arte da Bahia, em Salvador.

A exposição “Preciosidades de Uma Vida” fica aberta para visitação das 8h às 18h, no Espaço Cultural do Sesi, até o dia 16 de fevereiro. A entrada é franca.

Técnica compõe e dispõe objetos

Assemblage é uma expressão francesa utilizada para designar o objeto artístico produzido pelo agrupamento de materiais diversos e faz parte do universo do ex-aluno de Guignard, o mineiro de Araguari Farnese de Andrade, que construía suas obras com restos de madeira, brinquedos, conchas, detritos vindos do mar, fotos. As assemblages reúnem um universo estético que se superpõe à expressividade por seu conteúdo estético, enigmático e poético.

Os mágicos circuitos da pintura e da escultura funcionam como um meio de comunicação no amontoado de elementos em sua linguagem lúdica, enigmática. A técnica compõe os objetos dentro de um conceito basicamente emocional para depois dispô-los em forma de arte conceitual.

Por volta de 1978, Paul Gauthier, um crítico de grande prestígio em Paris, definia as assemblages um tanto paradoxalmente, dizendo que a “essência alegórica das coisas e a parábola simbólica do labirinto adquiridas nestas obras dá o sentido global da vida, a significativa cosmogonia da humanidade, perdida na imensidão do tempo e do espaço e encarando uma cultura explodida face a uma civillização em crise, de um mundo totalmente quebrado”

Enfim, a assemblage é a reafirmação do conceito de arte pela reflexão no exercício da composição e da desconstrução do objeto em bruto, considerando-se essencialmente o desgaste do material provocado pelo tempo.


18/1/2006 - Jair Lemos, Jornal Bom Dia - S. J. do Rio Preto, SP


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